17 julho 2007

EU E MEUS DONOS



EU E MEUS DONOS

Dizem os médicos que as pessoas que têm um bicho de estimação são menos propensas a uma série de doenças. Parece que a companhia do animal desperta nos homens mecanismos de carinho, de afeto, de atenção, sobretudo naquelas pessoas muito solitárias, não importa a idade. O contato com o bicho, que se apega ao dono de uma forma amorosa e irrestrita, proporciona calma, tranqüilidade e um canal para a expressão do afeto. Com isso, vem a saúde, ou pelo menos se evita ou retarda a doença.
Evidentemente, quando os médicos falam essas coisas estão se referindo a animais como o cachorro, um peixinho, um pássaro. Nunca porem, a um gato.
Os gatos não são animais de estimação. Pelo contrário: nós humanos, é que somos propriedade desses felinos, que acham que os seres humanos foram criados para servi-los, alimenta-los, acaricia-los e alisar-lhes o pelo. Quer ver?
Quando você vai viajar, e coloca a mala em cima da cama para arrumar suas roupas, o gato aparece imediatamente e se deita em cima do seu blazer preto de grife. Para ele, você apenas arrumou aquele lugar para que ele se deitasse.
Compre um sofá novo e caríssimo, forrado com aquele tecido rugoso e tão alinhado. O gato logo entende que aquela textura foi fabricada apenas para que ele afiasse as preciosas unhas. E o patê de atum que você preparou para os seus convidados provavelmente será desviado para satisfazer a gulodice do bichano que, atraído pelo cheiro, lhe olhará com olhos suplicantes e ternos, sem um só miado, mas com um convencimento tão grande na expressão que é impossível resistir. Acomode-se na cama, na posição ideal para adormecer ou ler que ele chega, sorrateiro, quente e pesado, deita-se sobre suas pernas obstruindo sua circulação.
Não adianta ensinar-lhe gracinhas, como ao cachorro, ou ao papagaio. O gato é superior demais para prestar-se a esse papel. Também não é o melhor amigo do homem: é, sim, o melhor amigo dele mesmo. Orgulhoso, esnobe e delicado, amante amoroso e fera bravia, quando se entrega aos nossos carinhos não o faz por afeto a nós: antes permite que o acarinhemos, recebendo isso como um tributo que nós, humanos, lhe devemos.
Pertenço a dois gatos: Everaldo Tavares, o gato cinzento, e Júlio Braga, o gato amarelo. Cada um deles tem sua personalidade própria e especial, cheia de nuances. Depois que eles me adotaram como o animal de estimação deles, minha vida ganhou um novo significado e agora mesmo, enquanto escrevo, Everaldo cochila no meu colo. Tem até um leitor que me ligou uma noite e leu ao telefone um poema que ele fez – advinha pra quem? Para meus dois gatos, caro leitor, e não para mim, como você talvez estivesse imaginando.
Finalmente, antes que os proprietários de cachorros saiam aflitos em defesa dos seus bichos, dizendo-os mais especiais do que os gatos, respondo com uma simples pergunta. Quando você chama um homem de “cachorro”, você quer dizer o quê? E quando o chama de “gato”, qual é o significado?


Texto:Clotilde Tavares (Jornalista/ escritora)

Foto: Tatu (Meu dono...rsrsrrssr)



Agradeço a amiga Vânia pela linda lembrança que me enviou e convido todos a visitar o blog da minha filha SAVE ANIMAL e meu novo blog onde estou postando textos da Clarice Lispector


Bjs

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